Cultura visual e curadoria em museus de História

APA:
Carvalho, V. Lima, S. (2005). Cultura visual e curadoria em museus de História. Estudos Ibero-Americanos, (2), 53-77. Recuperado de http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/iberoamericana/article/viewFile/1338/1043

Mini-resumo:
O artigo se propõe demonstrar a ligação orgânica existente entre as três áreas constitutivas da prática curatorial: a produção de um sistema documental, a produção de conhecimento na área da cultura visual e a produção de obras dedicadas ao público de um museu de história. 

Resumo analítico:
O artigo apresenta experiências acadêmicas e museológicas envolvendo as coleções fotográficas do Museu Paulista de São Paulo/Brasil Com o objetivo de demonstrar a ligação orgânica existente entre as três áreas constitutivas da prática curatorial: a produção de um sistema documental, a produção de conhecimento na área da cultura visual e a produção de obras dedicadas ao público de um museu de história. A demanda hoje por imagens deve vir acompanhada de um esforço de crítica da imagem. Cremos que essa crítica não dispensa a compreensão dos elementos formais que a constituem.No caso da produção fotográfica, detalhando melhor o foco do trabalho, a pesquisa articula-se aos sistemas documentais institucionais, que, entre muitas outras tarefas, estariam voltados para a geração de um vocabulário descritivo que atendesse essas especificidades.
Ao analisarem as fotografias de São Paulo ao final do século XIX e primeiras duas décadas do século XX, as autoras encontraram uma cidade concebida como o espaço de circulação de mercadorias. A valorização da rua em primeiro plano exagerado não é acidental, ou simples efeito estético. Efeitos de ordenação não são produzidos pela simples presença, por exemplo, do guarda de trânsito, mas por efeitos visuais de repetição regular de formas geométricas como aqueles produzidos pela vegetação ou pelas pedras de pavimentação. Os elementos figurativos são centralizados e explorados na sua simetria e monumentalidade.
A análise dos documentos fotográficos foi expandida, trabalhando no mesmo quadro conceitual e metodológico, ao avaliarem 12.000 retratos fotográficos através de descritores inseridos na base de dados institucional. Os retratos foram produzidos por um único fotógrafo, Militão Augusto de Azevedo, que atuou na cidade de São Paulo entre os anos de 1862 e 1885, uma época em que sua população não chegava aos 40.000 habitantes.4 O fotógrafo é conhecido pelos estudiosos da cidade de São Paulo em virtude dos registros fotográficos urbanos que realizou, dando origem ao Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo, 1862-1887. Este acervo se desdobrou, durante a pesquisa em vários interesses e traduções históricas, desde as poses dos fotografados, passando pela representação da cidade e também da mulher na sociedade de então.
Hoje os Museus Históricos enfrentam dilemas relativos ao desempenho das exposições frente aos seus objetivos educacionais, culturais e de fruição estética. Diante do uso por vezes quase abusivo de recursos de multimídia e imagens eletrônicas e em face das cenarizações dos parques temáticos que forjam um passado estilizado com o qual o espectador se relaciona acriticamente, quais seriam os caminhos para o museu histórico conciliar curadorias de natureza científica, propósitos educacionais e prazer estético?
Oscila entre os extremos de tornar-se atração turística esvaziada de conteúdos críticos e a opção de manter-se distante de qualquer incorporação de meios tecnológicos associados aos projetos museográficos. A aproximação entre Artes Plásticas e História da Cultura Material resultou em fertilizações mútuas. De um lado, o artista plástico foi introduzido em um vasto território documental e a uma produção científica apropriada apenas entre seus pares. Por outro lado, a curadoria histórica pode contar a experiência do artista na realização plástica de obras que sintonizavam reflexões atuais com problemáticas desenvolvidas nos moldes textuais da academia.
A meta da pesquisa, segundo as autoras, foi oferecer ao usuário do banco de imagens do Museu Paulista, predominantemente pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação, dados primários que deveriam ser posteriormente trabalhados por eles. Ao mesmo tempo, a equipe da casa se beneficiaria de um projeto que dava um passo adiante no enfrentamento de uma documentação que deveria nos servir para o estudo do retrato na perspectiva da cultura material.
Através de um vocabulário formal, aplicado a cada documento, foi possível chegar às combinações mais recorrentes, ou seja, ao repertório visual do conjunto documental analisado. Só então nos foi possível demonstrar como esse repertório visual estava associado a sentidos socialmente produzidos e aderidos às imagens.



Outros itens:
  • Áreas predominantes (além de fotografia): Arquivologia, Museologia.
  • Área secundária: História.

ficha: Rinaldo Morelli